domingo, 3 de julho de 2016

Papo de Homem?

Vi nesta semana uma imagem em que se veem mulheres maquiadas, trajando roupas curtíssimas, posando de costas para a foto, em poses que certamente evidenciam partes dos seus atributos físicos, também conhecidos como bunda. Acompanha a imagem uma legenda em que se lê algo que, se não é isso, é parecido com isso (realmente eu não memorizei, o nível de imbecilidade é tão grande que eu preferiria tê-la esquecido): “são mulheres assim que vivem dizendo que nenhum homem presta”.

A nítida intenção do texto é infamar a imagem dessas mulheres que, tachadas por “vagabundas”, “putas”, “galinhas”, “piranhas” e outros adjetivos pejorativos, não seriam merecedoras de homens de caráter. De acordo com a lógica assustadora da legenda da imagem, restam-lhes apenas os homens que não prestam, aqueles de índole compatível à desse tipo de mulher que, por vestir roupa curta e desejar mostrar partes do seu corpo, não é digna, tampouco merecedora de “alguém que preste”.

Cansa-me profundamente ter de repetir à exaustão o clichê de que roupa nenhuma define caráter, comprimento nenhum de vestido determina merecimento de castigos ou benesses e não me alongarei nesta discussão. Assusta-me pensar que, tão pouco tempo depois da imensa repercussão de um caso de estupro coletivo, no qual a índole da menor estuprada foi reiteradamente posta em xeque nas mídias de todo país, pessoas supostamente esclarecidas compartilhem imagem com este tipo execrável de legenda machista, preconceituosa e estúpida.

Postagem estúpida, extraída de uma página intitulada Papo de Homem (que não deve ser confundida com esta outra aqui, PapodeHomem), é quase inevitável deduzir que os responsáveis pela confecção da montagem e seu respectivo compartilhamento foram homens (não desconsiderando ainda a parcela de mulheres machistas que há, por mais incoerente que isto possa parecer). Sem cérebro, mas homens. E é para esses homens que eu respondo: não é esse tipo de mulher que diz que homem nenhum presta, mas são, sim, esses tipos de homem que fortalecem a ideia errônea de que nenhum de nós vale alguma coisa.

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