segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Vazio do Discurso

Normalmente eu gosto de ver quem concorda comigo. Claro, como ser humano, dotado da prepotência de quem acha que está no topo da cadeia alimentar, eu gosto de ver gente que concorda comigo, já que, supostamente, tratando-se do meu pensamento, é presumível por mim mesmo que aquilo em que eu penso é o correto.

Mas, espero sempre, de quem pensa diferente, que me convença. Amo ser convencido. Mas, não de qualquer forma. Não me transformo com falácias ou premissas prontas. Quando abordo qualquer assunto polêmico, o que quero, de verdade, é que alguém me mostre, dentro da lógica, que eu estou errado, equivocado, incompleto. Algumas (muita) vezes, dou-me conta de tenho pensamentos não compartilhados pela maioria das pessoas que conheço. Por serem "meus pensamentos", prefiro achar que estou certo. Mas, admitindo que é um pensamento pouco compartilhado, acabo sempre me questionando "será que estou com razão?" e, nesta hora, espero sempre que alguém me mostre que não, que não estou certo. Algumas vezes, bem poucas, conseguem me convencer. E não enho nenhum problema em dizer "você tem razão, eu não tinha olhado por este ponto de vista". Na maioria das vezes, porém, não. Quase sempre me trazem argumentos rasos e ultrapassados, calcados em premissas prontas, que aceitam como dogmas e jamais questionam como teriam formado tais premissas.

Acho uma pena as pessoas terem preguiça de pensar para além das próprias premissas.

Imagino o quão triste deve ser a pessoa que diz "melhor mudar de assunto", no calor de um debate, porque não tem mais argumentos e não aceita a possibilidade de ter que mudar de ideia. Estas pessoas têm um apego tão forte às próprias convicções que preferem encerrar a conversa que aceitar que pode mudar. Quando uma discussão gera discordância, é lamentável ver que na maiorias das vezes as ideias se encerram porque as partes envolvidas preferem não brigar. Como se a discordância de ideias envolvesse necessariamente um conflito. "Vamos mudar de assunto, não quero acabar brigando com você."

Sempre que alguém me diz, neste contexto, "melhor mudar de assunto", interpreto isto como "pouco me importo com o que você tem a me dizer, você não irá me convencer" ou ainda, "meus argumentos são tão frágeis que prefiro não discutir mais para não demonstrar a fragilidade do meu pensamento". Qualquer uma das duas hipóteses significa a mesma coisa: "estou de tal forma preso às minhas convicções, que prefiro não me arriscar a mudá-las, mesmo que eu veja que eu devo". É triste demais ver essas pessoas escravas das próprias ideias, que não se permitem mudá-las, que não se permitem desconstruir conceitos tidos como absolutos, sem que jamais tivessem questionado o porquê.

Tenho o máximo do prazer quando consigo olhar para mim mesmo e me dar conta de que vinha reproduzindo pensamentos equivocados e raciocínios incoerentes; quando digo para o outro "você tem razão"; quando me permito olhar sob um prisma inédito até então. Adoraria conseguir compartilhar esta sensação com pessoas que se agarram com tanta força às convicções que, mesmo quando reconhecem a infalibilidade de determinados argumentos, rendem-se a eles e dizem "é verdade, você tem total razão", mas finalizam com "no entanto, continuo não aceitando".

Quem continua não aceitando aquilo com que não tem mais opções senão concordar é escravo da própria intransigência. E não ter liberdade para com as próprias ideias é o pior tipo de escravidão a que se pode submeter. Por isso mesmo que faço minhas as palavras do poeta, preferindo sempre ser essa metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

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