terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crônicas de um AdvoGADO

QUANDO O DIA COMEÇA COM VOCÊ JÁ QUERENDO MANDAR SERVENTUÁRIO IMBECIL VAZAR PARA A MERETRIZ QUE DEU À LUZ.

Estava eu, lindo, loiro e serelepe – “melhor atriz do Brasil, e amada pelo povo brasileiro” (VIEIRA, Suzana) – seguindo mais um dia feliz de trabalho, em uma empresa linda e bela, em um agradabilíssimo dia de verão carioca, quando me deparei com a informação de que teria HOJE, Dia de Vossa Mãe Iemanjá, uma audiência em uma das Varas Cíveis no Reino de Tão Tão Distante, que a ética me impede de revelar qual é.

Para confirmar a informação, como sempre faço, entrei no site do TJ para me certificar de que a audiência aconteceria, e vi – “meninos, eu vi” (PIRAMA, Juca) – que a data seria no próximo 23 (“são oito dias para o fim do mês, faz tanto tempo que não lhe vejo...” ABELHA, Kid). Eram duas informações diferentes que precisavam ser confirmadas.

Liguei para o Cartório em Tão Tão Distante, quando uma ternurinha, que não era a garota papo firme que o Roberto falou, me disse que não haveria nenhuma audiência marcada, nem hoje, nem dia 23, nem nunca mais, muahahahahaha! Riu maleficamente e desligou o telefone, não sem antes fazer uma ameaça: “certifique-se com o Gabinete!”

Lá fui eu ligar para o Gabinete, com três informações diferentes, quando o palhaço, digo, serventuário, me atendeu. Depois de explicar duas ou três vezes a situação, insistindo que eu tinha três informações discrepantes, as três prestadas pelo mesmo cartório, e que eu precisaria esclarecer qual delas seria real, seguiu-se o seguinte diálogo:

- Dr. (já adorei, porque reconheceram minha pompa e me chamaram pelo título que mais gosto #SQN), não posso dar informações por telefone. Para isto, o Dr. precisa vir aqui.

- Querido, eu quero a informação por telefone, justamente para não ter que ir aí. Até porque o erro na informação é de vocês. Eu ainda tenho que ir aí resolver, pessoalmente, uma situação por um erro que a Vara cometeu?! Se fosse para ir aí, eu já iria por ter uma audiência designada para hoje.

- Ah, sua audiência é hoje? – Pausa dramática para minha cara de paisagem, quando expliquei mais uma vez a situação.

- Então, acho que você ainda não me entendeu. É justamente isso que quero esclarecer: se minha audiência é para hoje ou não. Afinal, se eu tenho três informações divergentes prestadas por vocês, gostaria de saber qual delas é procedente para não ter que dar viagem perdida até São João de Meriti, digo, até Tão Tão Distante. Então, você pode confirmar pelo menos isto?

- Ah, então sua audiência é para hoje, né? Espera um pouco. Vou conferir a informação e já volto. – porque para o Serventuário esperto e ágil, somente seria justificável dar a informação por telefone quando a audiência estivesse agendada para o mesmo dia.

Passaram-se alguns instantes quando me volta o néscio, com um tom de voz muito, muito, muito pouco amistoso:

- O DOUTOR NÃO TINHA DITO QUE A AUDIÊNCIA ERA HOJE?!

E foi neste momento que minha paciência, que se encontrava em seu volume morto, acabou:

- Não, quem disse que a audiência seria hoje foram vocês mesmos, aí da Vara Civ...

- DOUTOR, POR FAVOR, NÉ? SUA AUDIÊNCIA É DIA 23! O DR. ME FEZ PRESTAR INFORMAÇÃO TELEFÔNICA À TOA. POSSO SER PUNIDO POR ISSO! QUANDO FOR ASSIM, POR FAVOR, VERIFIQUE NO SISTEMA DO TRIBUNAL A DATA CORRETA.

- Ah, então é dia 23 mesmo, né? – Respirei fundo, agradeci a informação, desliguei o telefone, segurando na minha garganta o sonoro “vá tomar no olho do seu cu!” que minha boca jamais pronunciou.

E o salário, ó.

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