Surpreende-me quando
as pessoas se encontram em um nível tal de insatisfação com um sistema, mas
vivem tão fechadas no Caverna do mito platônico, que não aceitam a busca por uma fórmula
alternativa.
Tempos atrás, duas
pessoas criticavam o sistema cruel de interesses por trás da vida de paquera e
da formação de um relacionamento.
Um discurso
apocalíptico e generalista, em padrões aterrorizantes de falta de perspectiva.
Algo próximo disto,
do lado dela: "Nós, mulheres, passamos a vida nos produzindo para os
homens e lutando por estabilidade financeira, para não sermos deles
dependentes. Quando temos a tal estabilidade, não somos mais garotinhas
novinhas e precisamos nos produzir mais e mais para compensarmos a ação do
tempo sobre nosso corpo. Quando eles querem filhos, de quem nós nem sempre
podemos cuidar, não conseguimos satisfazer seu interesse de formar família.
Quando aceitamos, ficamos mais e mais acabadas e temos que abrir mão, muitas
vezes, da nossa carreira, perdendo a estabilidade financeira. E eles,
invariavelmente, nos mantém dependentes, de forma que não temos escolha. E eles
também perdem por nós o interesse, indo procurar na rua por garotinhas novinhas
e mais atraentes que nós."
Algo próximo disto,
do lado dele: "As mulheres se queixam de que não querem ser dependentes
dos homens. Mas, quando se interessam por um cara, procuram logo saber sua
situação financeira, se tem carro, se mora em casa própria, quanto ganha...
Nenhuma fica à vontade para querer namorar um pé-rapado. Nós passamos a vida
inteira trabalhando para conseguirmos uma vida social estável e, com isto,
chamarmos atenção das mulheres, que estão sempre ocupadas demais gastando com
roupas e maquiagens, segundo elas, para nos agradar. O cara tem que ter
dinheiro para bancar isto. Homem não gosta de mulher feia. Mas, não é agradável
também ter uma mulher que dependa da gente o tempo inteiro!"
A unanimidade no
discurso de ambos: "É tudo um jogo de interesse. O sistema é cruel e no
fim, todos se queixam, porque é isso. Relacionamentos sexuais e afetivos são
isso e nascem fadados ao fracasso!"
É quando alguém
timidamente intervém na conversa e sugere: "Não seria mais fácil se
interessar apenas por quem se gosta e não por quem pode bancar ou quem aparenta
estar mais bem vestida?"
As reações são ainda
mais aterrorizantes: "Lá vem a pessoa sonhadora e idealista! Acha que
vamos viver pulando de galho em galho? Sem ninguém estável? Trocando de
relacionamento como quem troca de roupa? Tendo vários relacionamentos
simultâneos, como essa modinha que vem aparecendo aí agora? Sentimento não
funciona, não; isso é papo furado!"
Pois é, caros
amigos. A busca por alternativas acaba por soar sempre como uma proposta
inconcebível quando estamos diante de uma realidade que se impõe a pessoas que
preferem se acomodar na infelicidade.
Não, obrigado.
Quando pego um ônibus errado, prefiro descer até achar meu caminho correto. Não
importa quantas conduções tenha que pegar de novo.
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