quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Desencontros ou Acomodação Nossa de Cada Dia

Surpreende-me quando as pessoas se encontram em um nível tal de insatisfação com um sistema, mas vivem tão fechadas no Caverna do mito platônico, que não aceitam a busca por uma fórmula alternativa.

Tempos atrás, duas pessoas criticavam o sistema cruel de interesses por trás da vida de paquera e da formação de um relacionamento.

Um discurso apocalíptico e generalista, em padrões aterrorizantes de falta de perspectiva.

Algo próximo disto, do lado dela: "Nós, mulheres, passamos a vida nos produzindo para os homens e lutando por estabilidade financeira, para não sermos deles dependentes. Quando temos a tal estabilidade, não somos mais garotinhas novinhas e precisamos nos produzir mais e mais para compensarmos a ação do tempo sobre nosso corpo. Quando eles querem filhos, de quem nós nem sempre podemos cuidar, não conseguimos satisfazer seu interesse de formar família. Quando aceitamos, ficamos mais e mais acabadas e temos que abrir mão, muitas vezes, da nossa carreira, perdendo a estabilidade financeira. E eles, invariavelmente, nos mantém dependentes, de forma que não temos escolha. E eles também perdem por nós o interesse, indo procurar na rua por garotinhas novinhas e mais atraentes que nós."

Algo próximo disto, do lado dele: "As mulheres se queixam de que não querem ser dependentes dos homens. Mas, quando se interessam por um cara, procuram logo saber sua situação financeira, se tem carro, se mora em casa própria, quanto ganha... Nenhuma fica à vontade para querer namorar um pé-rapado. Nós passamos a vida inteira trabalhando para conseguirmos uma vida social estável e, com isto, chamarmos atenção das mulheres, que estão sempre ocupadas demais gastando com roupas e maquiagens, segundo elas, para nos agradar. O cara tem que ter dinheiro para bancar isto. Homem não gosta de mulher feia. Mas, não é agradável também ter uma mulher que dependa da gente o tempo inteiro!"

A unanimidade no discurso de ambos: "É tudo um jogo de interesse. O sistema é cruel e no fim, todos se queixam, porque é isso. Relacionamentos sexuais e afetivos são isso e nascem fadados ao fracasso!"

É quando alguém timidamente intervém na conversa e sugere: "Não seria mais fácil se interessar apenas por quem se gosta e não por quem pode bancar ou quem aparenta estar mais bem vestida?"

As reações são ainda mais aterrorizantes: "Lá vem a pessoa sonhadora e idealista! Acha que vamos viver pulando de galho em galho? Sem ninguém estável? Trocando de relacionamento como quem troca de roupa? Tendo vários relacionamentos simultâneos, como essa modinha que vem aparecendo aí agora? Sentimento não funciona, não; isso é papo furado!"

Pois é, caros amigos. A busca por alternativas acaba por soar sempre como uma proposta inconcebível quando estamos diante de uma realidade que se impõe a pessoas que preferem se acomodar na infelicidade.

Não, obrigado. Quando pego um ônibus errado, prefiro descer até achar meu caminho correto. Não importa quantas conduções tenha que pegar de novo.

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