O que mais irrita não é o metrô ficar dez minutos parado em
cada estação, atrasando a viagem. Mais que isto, o que realmente é insuportável
é ouvir as reses estalando a língua nos dentes, numa crescente sinfonia de
"tsc-tsc", em sinal de exasperação, sem, no entanto, moverem um dedo
sequer para saírem da sua condição de gado.
É tão grande e estarrecedora a apatia dessa gente que começo
a me questionar, em devaneios fantásticos, qual seria sua reação se, em vez de
ar refrigerado, saísse pelos dutos gás tóxico. Tenho a sensação assustadora de
que todos veriam uns aos outros tossindo, asfixiando-se, caindo ao seu lado, agonizando,
mas, em vez de tomarem uma atitude, continuariam internamente amaldiçoando o
sistema, enquanto suas línguas e dentes entoariam uma ladainha de
"tsc-tsc", até que todos morressem sem oxigênio.
O que mais me entristece é pensar que esse gado não integra
aquele milhão de pessoas irresignadas que foi para as ruas protestar. Ao
contrário, essa massa faz parte do restante, os outros cento e sessenta milhões de eleitores
despolitizados que, preocupados demais com o horário de cada partida e cada
chegada, com o lugar mais próximo à porta, com a rasteira que vão passar na
pessoa ao lado para garantirem uma poltrona, vendem seu voto a qualquer um que
lhes assegure um botijão de gás, mantendo o Estado da mesma forma de sempre. Mantendo,
inclusive a eterna sinfonia de línguas e dentes: tsc, tsc, tsc, tsc...
Nenhum comentário:
Postar um comentário