terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Yhwh: O precursor do terrorismo

Mais um ano caminha em direção ao seu fim e todo aquele ritual característico do mês de dezembro começa a ser observado no comportamento geral das pessoas. Em todos os cantos, todos correm pelas lojas em busca de presentes e pelos mercados em busca do maior peru. As agendas ficam lotadas com tantas reuniões e confraternizações que, rotineiramente, acabam no famigerado “Amigo Oculto”, o qual sempre deixa insatisfeito um considerável percentual do grupo em questão. Há sempre um exagero nas ornamentações de gosto duvidoso, com uma infinidade de luzes e cores, que configuram poluição visual sem fim, mas que todo mundo ama. Há homens gorduchos vestidos com inexplicáveis casacos vermelhos, que devem ter sido bastante úteis na última glaciação, mas, que se afiguram completamente desprovidos de sentido no verão escaldante destas paragens tupiniquins. E há ainda as mobilizações sociais para arrecadação de donativos a serem distribuídos para grupos menos favorecidos, que, muito provavelmente, só são lembrados nesta época do ano.

De outro lado, há sempre um grupo ávido pela discórdia, pronto para estragar o prazer alheio, insistindo em propagar que tudo isso é vão e que a verdadeira razão de ser do Natal é celebrar o nascimento de Jesus Cristo (que nasceu 7 anos a. C.!) e que todo o mais não passa de armadilha do Demônio do Capitalismo, filho mais velho de Satanás, que insiste em desvirtuar pessoas de bem do Verdadeiro Caminho (assim mesmo, com letra maiúscula, em sinal de reverência ao caminho – na verdade um desfiladeiro – que supõem ser a única opção válida). São os crentes! Os filhos de Deus! E faço questão de deixar claro que o termo “crente” aqui está tomado na sua acepção mais ampla, não se confundindo com “evangélico”, “religioso”, “cristão” ou qualquer outra designação restritiva de fé. É um clichê, mas para evitar comprar uma briga desnecessária com grupos que apregoam o politicamente correto, explicito aqui o conceito: crente é quem crê, é sinônimo de crédulo. Melhor assim.

Hoje, há poucas horas atrás, em conversa com uma amiga crédula, declarei-me ateu e ouvi a pergunta “por qual razão você é ateu?”. Antes de responder, por se tratar de um diálogo com uma pessoa com quem possuo um mínimo de intimidade e nutro um mínimo de estima, senti-me à vontade para brincar, munindo-me de uma suposta intolerância ateísta (que, aliás, também não me agrada em nada, porque qualquer forma de fundamentalismo me preocupa), revidei, num fingido tom agressivo: “por qual razão você crê? Ou melhor, por que você crê? Porque quem crê já não tem razão!”. Rimos da guerra ideológica e encerramos a contenda ali mesmo, com ambas as perguntas deixadas sem resposta.

Mas, confesso que, como ateu declarado há pelo menos 15 anos, começo a achar que são clichês as mesmas perguntas tantas vezes repetidas por mim e pelos meus pares como “porque crer?”, mas, ainda assim, não consigo deixar de fazê-las! E uma das coisas que mais me intriga na fé cega (que é realmente uma faca amolada) é quando eu escuto que “Deus é bom”.

Este raciocínio me atormentou durante um bom tempo, quando, anos atrás, assistindo ao desenho animado “O Príncipe do Egito”, cheguei a uma conclusão: “Deus é um terrorista!”, exclamei em um volume alto o suficiente para deixar minha irmã evangélica e minha mãe horrorizadas com a heresia proferida.

Em um excelente conceito extraído da Wikipedia, terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território. Trata-se de uma forma de coação das aglomerações sociais para se colocar em prática aquilo que se quer propagar, seja de cunho religioso, político, étnico, ou qualquer outra forma de ideologia, normalmente incutindo o pânico nas pessoas inocentes, para que os grupos que detém o poder possam realizar a vontade do grupo que pratica o terror.

Assim, como exemplo de terrorista, posso citar o grupo separatista Euskadi Ta Askatasuna (ou simplesmente ETA, sigla para “Pátria Basca e Liberdade”, no idioma basco) que, visando ao seu desmembramento do restante da Espanha com a criação de um país basco, desde 1959 vem pressionando o governo espanhol através de luta armada e ataques a civis. Da mesma forma, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, que, visando à implantação do sistema socialista na Colômbia, pressionam o governo, através de sequestros e homicídios. E o que dizer da Al-Qaeda, grupo fundamentalista islâmico, liderado por Osama Bin Laden, que, em combate ao imperialismo norte-americano, deixou boquiaberto o mundo ao lançar aviões sobre o World Trade Center, causando a morte de pessoas inocentes, que sequer tinham relações com o governo dos Estados Unidos!

É comum vermos toda a gente horrorizada com tais práticas, perguntando-se como é possível que tantos inocentes paguem pelos atos dos grupos terroristas que, pretendendo mobilizar governos, atacam-nos, mesmo que com eles sequer guardem relações!

Trata-se de uma prática antiga. Muito antiga. Em minha palavra de leigo, tenho como o mais antigo registro de terrorismo o livro do Êxodo, capítulo 3, versículos 19 e 20, que assim narrou: “Eu sei que o rei do Egito não os deixará sair, a não ser que uma poderosa mão o force. Por isso estenderei a minha mão e ferirei os egípcios com todas as maravilhas que realizarei no meio deles. Depois disso ele os deixará sair.”

Segundo a Mitologia Bíblica, ninguém mais que o próprio Deus, o mesmo que lá em cima me disseram que era bom, escolheu o povo hebreu como herdeiro da Terra Prometida de Canaã, ordenando a Moisés que convencesse o faraó a libertá-lo, eis que se encontrava escravizado no Egito. Quando Moisés perguntou como faria para convencer o faraó, com a naturalidade de quem responde as horas, Jeová teria respondido que causaria feridas aos egípcios e que isto o convenceria.

E assim, vieram as Dez Pragas do Egito, que culminaram na morte dos primogênitos descrita em Êxodo 12:29-30: “Então, à meia-noite, o Senhor matou todos os primogênitos do Egito, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho do prisioneiro que estava no calabouço, e também todas as primeiras crias do gado. No meio da noite o faraó, todos os seus conselheiros e todos os egípcios se levantaram. E houve grande pranto no Egito, pois não havia casa que não tivesse um morto.”

A pergunta que nunca deixo de fazer é a de que se Deus é onipotente, não seria mais prático mudar a opinião do faraó, poupando a vida do “filho mais velho do prisioneiro que estava no calabouço”, que nada tinha a ver com a dominação dos hebreus? Ou, sem adentrar o mérito de sua questionável bondade e benevolência, e toda a ausência de lógica daí decorrente, se Yahweh precisava tanto satisfazer sua sanha assassina, porque não matar apenas o faraó? Ou apenas o seu filho mais velho? Para que levar “grande pranto” ao Egito?

Honestamente, se vejo alguma diferença entre o terrorismo de Alfonso Cano, Osama Bin Laden e Gilmar António e o de Javé é porque este último, supostamente onipotente, poderia dispor de outras estratégias para alcançar seu objetivo maior e se delas não fez uso, tal fato somente se explica por um prazer mórbido na destruição e na dor alheia.

Recentemente o ETA anunciou o fim da guerrilha, partindo para o diálogo e a diplomacia. As FARC não chegaram ao mesmo nível de civilidade, mas negociaram a libertação de vários prisioneiros, demonstrando certa relativização de seus métodos, ainda que sutil. Enquanto isso, para o futuro, o profeta João Batista nos diz, em Apocalipse 14:18-19: “Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro.”

Parece-me que a vingança será sempre a primeira opção para a Yhwh. E diante disto tudo, continuo seguindo meus passos de ateu, perguntando “qual a razão de crer?”, ou melhor, “porque crer?”

Porque quem crê, se o faz, é porque há muito já perdeu sua razão!

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