quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tédio

(originalmente publicado em)
Itabuna, sábado, 30 de abril de 2005

Texto escrito no Word, em 29.04.2005, às 23:09.

No ar, um misto de incenso de orquídeas, cera líquida e perfume canelado... Um cheiro agradável. Corpo limpo. Relaxado. Minha casa também está limpa, como há muito eu não via. Chão varrido, pano passado, e encerado. O banheiro estava se tornando propriedade dos fungos, e eu tinha que pedir licença para entrar. Faltou pouco para começarem a me pedir a senha... Dizem que a casa reflete o estado de espírito do seu habitante. Faz sentido. Ou não? Há algumas horas fazia. Minha casa andava uma bagunça. Minha vida andava (?) uma bagunça. Acabei varrendo o lixo do chão, jogando fora algumas coisas que não me serviam mais. Isso me assusta um pouco... O que será que eu precisarei jogar fora na minha vida para que ela fique tão agradável quanto esta sala cheirando a cera e incenso? Tenho medo de descobrir a resposta. Aliás, ultimamente, eu tenho feito tantas perguntas, que vagam no ar, passeiam, e se perdem, sem encontrar um ponto final, uma solução...
Falta emoção na minha vida. Hoje comecei a fazer abdominais. Já havia começado os meus exercícios, mas não havia voltado aos abdominais. Comecei por baixo. Em breve quero voltar à quantidade que eu costumava fazer. Continuo a minha dieta de cereais, legumes, verduras e frutas. Para que isso tudo? Saí do banho a alguns momentos, penteei-me, passei perfume. Para que? Para quem sentir? Para quem me ver? Às vezes é preciso ser egoísta...
Estou com sono. Não muito, mas o suficiente para fazer meus olhos pesarem um pouco. Olhava-me no espelho há alguns minutos. Meu rosto refletia todo o tédio que senti nos últimos dias. Minhas olheiras estavam um pouco fundas. Há cinco noites não tenho dormido bem. Acho que voltei a ter insônia... Meu rosto estava sério. Não quis sorrir. Nem chorar. Apenas me olhei. Achei-me bonito, até. Olhos inexpressivos, que refletiam uma certa frieza capaz de assustar quem os contemplasse. E naquele momento eu os contemplava. E os pensamentos confusos que passearam pelo terreno fértil que é a minha cabeça durante todo o dia, continuavam ali, rondando, espreitando... Agora, enquanto escrevo, não sinto mais aquela ausência do sentir! Agora, enquanto escrevo, não estou mais pensando que sou uma embalagem vazia, oca, a espera de uma mão que a embole e jogue no lixo. Agora, enquanto escrevo, sinto aumentar o tédio, e com ele uma certa opressão. Deve ser solidão. Iago dorme com o corpo estirado e contorcido sobre o colchão. A opressão aumenta, meus olhos antes frios e assustadores, agora se umedecem e tornam-se assustados. Não os vejo mais, estou de costas para o espelho, mas imagino que estejam vermelhos. Um pouco pelo sono. Um pouco pela vontade de chorar que me bateu enquanto escrevo.
Vou dormir agora. Ou melhor, vou me deitar. Se dormirei, já não sei mais, depois das últimas noites... Mas pelo menos sei que amanhã, ao me levantar, contemplarei a minha casa limpa. E talvez eu descubra o que preciso fazer para limpar a minha existência. Carpe diem.

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