quinta-feira, 22 de abril de 2010

Suicídio

(originalmente publicado em)
Itabuna, sexta-feira, 30 de julho de 2004.

Suicídio

Tenho a mente em desespero
O amor ainda não morreu
Mas a corda já está pendurada
Se meu pescoço não for fraco,
Como são minhas idéias,
Resistirei.
Não posso raciocinar
Miolos e pensamentos caem.
A bala passeia.
Nada no sangue
Minha boca aberta
Não mais grita.
Não mais saliva.
Não mais beija.
Apenas está aberta
E gotas vermelhas fogem lá de dentro!
Minhas mãos crispadas
Sujas de pólvora
Negras como o buraco
Aberto na minha mente
Por onde escorre meu pensamento
Estou doente.
Estou morto.
Estou salvo.
Meus dedos viscosos
Não seguram mais a lâmina
Duas fendas.
Uma enxurrada.
Dois abismos
Separam duas vidas.
E uma morte dolorosa.
Fim de uma vida dolorosa.
Lágrimas secas.
Olhos molhados.
Fechados. Cegos.
Hirtos.
Quiseram ver
Mas não tiraram a venda.
Não abriram a tampa!
Deformidade. Anormalidade.
Não sou mais o mesmo.
Sou desfigurado.
"Ave-Marias" e "Pais Nossos"
Proferidos por bocas hipócritas
Que sempre falaram
Mas nunca exprimiram pensamentos.
Mediocridade!
Vida infame!
Sufocação! Opressão!
A taça sobre a mesa
Guarda as últimas gotas
Não ingeridas.
Restos!
As mãos caídas refletem na morte
A resignação da vida.
Não temos direito de beber até a última gota.
O copo a segura em suas paredes!
E nunca levantamos a cabeça!
E nunca levantamos o dedo!
E nunca sorrimos de verdade!
O vazio da perda
Preenchido com o punhal.
O calor da vida
Esvai-se com o fogo que queima o corpo.
Como numa Santa Inquisição
Chamas não matam a alma.
As idéias semeadas
Lembrarão uma vida conturbada.
Pensamentos gravados.
Olhares incrédulos.
Moscas varejeiras.
Asfixiado em vida,
Asfixiado para partir.
Eles sempre me esmagaram
Agora não pode ser diferente.
Com minhas carnes dilaceradas.
Com meu ouvido mais aberto do que nunca
Não ouço mais nada, depois do estampido.
O cérebro escorre
E seus frutos ascendem.
Voam livres.
Agora sou livre, agora sou eu.
Amanhã não irei trabalhar.
Dúvidas extintas.
Paz.
Silêncio.
Tranqüilidade.
Dor.
Descanso.
Eterno.

Itabuna, 30.07.2004.
Gustavo Carneiro de Oliveira

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