sexta-feira, 23 de abril de 2010

Rimas

(originalmente publicado em)
Salvador, sexta-feira, 2 de março de 2007

É alta madrugada, e o papel é marcado por alguns rabiscos. Minha mente atordoada não me permite concatenar as idéias de modo a tecer um soneto... As rimas não saem, ante a redundância de um casamento trêmulo de paixão com paixão, amor com amor, e sinto que o momento não é propício para as palavras. Nunca consegui escrever bem, sentindo-me feliz! E dada esta realidade, pouco falta para eu defenestrar esta caneta e este papel, quebrar minhas próprias mãos na certeza de que jamais precisarei empunhar novamente uma pena...
Mas, de súbito, vem à tona a idéia de um dia eu vir a aprender a casar felicidade e escrita. Então penso em todos os bilhetes apaixonados que ainda não lhe dediquei. Penso em cada recado não deixado no espelho, talvez não com um batom, mas porque não com um pincel hidrográfico? Penso no guardanapo da lanchonete, não carimbado com um simples "amo você", dobrado no bolso de sua camisa... Vejo então, que mesmo se me faltarem as palavras para um texto brilhante, sobrar-me-ão sentimentos, que de alguma forma precisarei exprimir. Então conservo inteiros os meus dedos, para no dia em que papel algum encontrar sobre si qualquer palavra, eu possa com eles, tocar sua pele macia, imprimindo - no silêncio da madrugada, talvez entrecortado pelo som abafado da nossa respiração - todas as palavras não escritas, mas registradas nas nossas lembranças daqueles momentos que somente a nós, e a ninguém mais, será permitido ler.

Salvador, 02 de março de 2007, às 3:27, madrugada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário